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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Uma questão de identidade

....Cada um de nós tem uma história de vida, uma narrativa íntima - cuja continuidade, cujo sentido é nossa vida. Pode-se dizer que cada pessoa constrói e vive uma "narrativa" e que a narrativa é a pessoa, sua identidade.

Se desejamos saber a respeito de um homem, perguntamos "qual é a sua história - sua história real, mais íntima?", pois cada um de nós é uma biografia, uma história. Cada um de nós é uma narrativa singular que, de um modo contínuo, inconsciente, é construída por nós, por meio de nós e em nós - por meio de nossas percepções sentimentos, pensamentos, ações e, não menos importante, por nosso discurso, nossas narrativas faladas. Biologicamente, fisiologicamente, não somos muito diferentes uns dos outros; historicamente como narrativas. cada um de nós é único.

Para sermos nós mesmos precisamos ter a nós mesmos, possuir, se necessário repossuir, nossa história de vida. Precisamos "rememorar" o drama íntimo, a narrativa de nós mesmos. Um homem necessita dessa narrativa, uma narrativa íntima contínua, para manter sua identidade, seu eu.

Essa necessidade de narrativa talvez seja a explicação da desesperada enxurrada de histórias do Sr. Thompson, de sua verbosidade. Privado da continuidade, de uma narrativa íntima serena e contínua, ele é impelido a uma espécie de frenesi narrativo - daí suas incessantes histórias, suas fabulações, sua mitomania. Incapaz de manter uma narrativa ou continuidade genuína, incapaz de manter um mundo interior genuíno, ele é impelido à proliferação de pseudonarrativas, em uma pseudocontinuidade, pseudomundos povoados por pseudopessoas, fantasmas.

Como o Sr. Thompson vivencia isto? Superficialmente, ele é visto como um cômico exaltado. As pessoas comentam: "Ele é hilariante". E muito de farsa em uma situação como essa, que pode constituir a base de um romance cômico. É cômico, mas não só cômico - é terrível também. Pois ali está um homem que, em certo sentido, está desesperado, em frenesi. O mundo está sempre desaparecendo, perdendo sentido, sumindo - e ele precisa procurar sentido, criar sentido, de um modo desesperado, continuamente inventando, jogando pontes de sentido sobre abismos de falta de sentido, o caos que se escancara continuamente sob ele ..... ]

Trecho do livro:
Um livro incrível
Recomendadissímo
Valeu Raphael !! :-)
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