A Garota Triste

Colocou os fones e a touca.
As mãos nos bolsos e o pé na estrada.


Queria andar sem rumo, sem pensar.
Andar até se sentir feliz de novo.


Será que seria possível?


Andar até esquecer porque tinha começado
a andar e assim poder voltar pra casa.


O vento soprava, como que conjugando com sua tristeza.
As lágrimas escorriam pelo rosto e os fios de seu cabelo colavam na face.


Soluçava baixinho e cantava junto com a música que ouvia.
Olhava para baixo, observava os próprios passos e seus tênis sujos.


Olhava a calçada, incrível como o mundo fica cinza quando estamos tristes. Olhava o céu e a noite já se instalara.


Os carros passando e tudo que ela queria é que eles levassem aquela dor.
As pessoas passavam, alheias ao que sentia, alheias aos seus olhos vermelhos.


Mas eu a vi, eu a vi do meu lugar no ônibus, e pude sentir o que sentia.
E compreendi que nesse mundo de horas e metas,
não temos tempo, nem lugar pra ficarmos tristes.


Também já chorei andando na rua, já chorei sentada no ponto,
assim como já chorei com o rosto encostado na janela de um ônibus.


Sabia que ela iria passar por tudo isso, essa noite, talvez no dia seguinte,
ou nas próximas semanas, tudo depende do tamanho da dor e de como
lidamos com ela.


Conheço gente que não se permite chorar.


Conheço gente que não entende a tristeza que alguém possa sentir,
ou até entenda, mas se for uma tristeza persistente, dessas como chiclete que mastigamos até perder o gosto, que demora passar, esse tipo de tristeza, elas não entendem.


Então pra evitar esse tipo de gente, pegamos a tristeza e a colocamos
embaixo da cama ou em cima da estante, podemos guardar numa gaveta
ou até mesmo numa caixa de sapatos.


E vamos em frente, pois é o que todos esperam.


Pois nesse mundo de horas e metas, não há tempo para ficar triste.


Espero que aquela garota esteja melhor e que ela saiba que pode ficar
triste o tempo que precisar ficar.


Por Ranielelee