A sala de Carol não tinha janelas, ficava em um pequeno galpão ao lado dos estúdios, o local não era atendido pelo gerador, logo, quando a energia na cidade acabava, ela ficava no escuro, já estava acostumada, se assustou ao ouvir Vítor dizer:
- Puta merda, e agora?
Carol sorriu, pois sabia que ele não poderia ver e respondeu ainda num tom seco:
- Você pode esperar para ver se a energia volta ou pode voltar amanhã.
Vítor, com um tom irritado disse:
- Nenhuma das duas, não posso esperar, pois tenho um almoço daqui a uns 50 minutos e amanhã pego um vôo para a capital.
- Quando você volta?
- Semana que vem.
Nesse momento, Carol ficou preocupada, precisava entregar uma idéia de orçamento daquela mini-série até sexta-feira, e para isso tinha que ter as medidas. Novamente ouviu a voz de Vitor e no meio da escuridão viu um ponto de luz se mover, Vitor havia tirado o celular do bolso, iluminou o próprio rosto e disse:
- Vamos fazer assim, eu ilumino seu caderno com meu celular e você poderá anotar minhas medidas, posso dizê-las pra você, já fiz tantos trabalhos como modelo que sei de cor, vamos cintura...
Carol não se conteve e o interrompeu:
- Claro aposto que sabe a medida do seu ombro até o cotovelo.
Carol pode ver sob a luz do celular o rosto agora fantasmagórico de Vitor, com cara de bravo, e o pensamento de que nem mesmo com cara de bravo ele ficava feio, passou por sua cabeça, Carol abanou a mão em frente ao rosto para espantar esse pensamento, como quem espanta uma mosca.
- Então vamos fazer assim, venha até aqui e tire as medidas que precisa, eu ilumino com o celular para que você veja a fita e anote em seu caderno.
-Eu não vou ficar te apalpando no escuro, e outra, tem um teste de tonalidades de pele que preciso fazer para verificar as cores que melhor lhe caem bem, não dá pra fazer isso com a luz da tela do seu celular.
- Olha, preciso resolver isso, vamos lá fora, á luz do dia, você poderá fazer o que precisa desde que seja rápida.
- Eu não vou fazer meu trabalho no pátio da empresa.
Carol disse isso já imaginando quantas gracinhas teria que ouvir se alguém a visse medindo o galã atual ao ar livre, e acrescentou:
- Faça você o seguinte, diga ao diretor que instale um gerador nesse lugar, pois não é a primeira vez que fico no escuro.
- Eu não vou levar problemas ao diretor, acha que estou nesse emprego por levar ou por resolver problemas?
Carol sentiu nessa frase que Vítor estava realmente preocupado com a situação, e perguntou:
- E o que vai fazer depois desse almoço?
- Almoço é modo de falar, vamos conversar, tenho certeza que vai querer repassar o roteiro, que vai perguntar mil e uma coisas, falar sobre a expectativa da mini-série e vai me apresentar algumas pessoas, não posso ter um horário para ir embora.
O modo como Vítor falara, fez Carol imaginar que ele estava cansado. Então uma idéia passou por sua cabeça, e arriscou:
- E a noite ? Vai jantar lá também ?
Vítor ao ouvir isso, imaginou que a figurinista estava achando na situação um pretexto para sair com ele, e perguntou:
- Isso é um convite? Está me convidando para tirar minhas medidas em um jantar?
Carol se arrependeu do que disse, como imaginou que se arrependeria e disse rapidamente:
- Não, quer dizer, esquece. Eu me viro com o pessoal do financeiro, não tenho culpa da falta de energia, entrego o que der no orçamento, semana que vem você me procura e fazemos isso, vá para o seu almoço antes que se atrase.
Vítor sentiu que não era uma cantada, mas uma forma de resolver a situação para os dois.
- Aceito
- Aceita o que?
- Nos encontramos a noite para fazer isso, pode ser no hotel onde estou hospedado ? você deve conhecer é o GrandRio Hotel na avenida principal.
Carol ainda assimilando a informação, balbuciou:
- Conheço...
Vítor emendou
- Certo, esteja lá às 19h00, agora vou achar a saída nessa escuridão. até mais.
Carol, viu a luz do celular sumir junto com Vítor, e se deu conta, tinha um encontro.
Continua...
Por Ranielelee
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