Ligação

Sabia que era bobagem ficar olhando para o telefone público, como se ele fosse criar vida ou fazer qualquer coisa diferente, ao invés de ficar parado como todos os telefones públicos fazem.

Estava nervosa, alguma coisa dentro dela dizia que era muito necessário fazer aquela ligação, e outra coisa dizia que ela devia sair correndo de perto daquele aparelho, antes que ele cria-se vida.

Era algo simples, ela sabia o número de cor, tinha que tirar o fone do gancho, discar, ouvir chamar e esperar atender, e depois dizer o que tinha pra dizer.

Mas o que tinha pra dizer ? Era tanta coisa que as palavras se acumulavam na boca e nada saia.

Ela tremia.

Respirou fundo e disse a si mesma que aquele medo era infantil e ridículo e que tinha que ligar.

Levou o fone ao ouvido, discou os números rapidamente e ouviu chamar, ao primeiro toque a vontade de desligar foi praticamente insuportável, respirou fundo novamente, se achando a garota mais idiota do mundo e conseguiu resistir.

No terceiro toque uma voz masculina atendeu, era ele.

- Alô

- Oi ... eu preciso te falar ... que eu .... eu demorei muito pra conseguir tomar coragem pra te ligar ... eu quero dizer que .... que eu nunca te esqueci ...  que .... que penso muito em você e que .... que  gostaria que tudo tivesse sido diferente pra nós..... e é isso ... desculpa ....

E desligou aliviada.