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segunda-feira, 1 de março de 2021

Parede Branca

O quarto era pequeno, típico cômodo de periferia, uma única janela. Para melhor aproveitamento do espaço, a cama de casal fora encostada na parede.


Mais uma vez, ela estava deitada na cama com a cabeça no travesseiro encarando o branco gelado da parede do quarto, enquanto se questionava o que fazer da vida.


Achava curioso, como todos os relacionamentos até agora passaram por esse mesmo momento, o momento em que encarava a parede branca do quarto enquanto se perguntava o que fazer da vida.


Olhava para a parede como se naquele mal acabado cimento pintado de branco encontraria escrito a resposta da sua questão existencial mais atual.


Sabia que não.


Tentou se distrair relembrando as vezes anteriores que passou por isso. 


Sabia que eram momentos após o sexo, ou após o banho, antes de dormir após uma discussão.


Mas não sorriu ao relembrar.


Desejou que nunca mais tivesse que encarar paredes brancas


Se sentia cansada.


A última crise de ansiedade havia lhe transpassado o peito como uma espada quente, sentia dores nas costas, ombros, braços, cintura. Na boca o gosto metálico que já lhe era familiar, maxilares doendo de tanto serem cerrados involuntariamente.


Mas o maior cansaço, sabia, era o mental.


Não conseguia tomar decisões, e quando tomava, não era confiante.


As menores questões eram complicadas e difíceis de resolver.


Pensava que tinha total ciência do que estava acontecendo, ao mesmo tempo que se questionava se essa consciência era confiável.


Cansada


Repetia várias vezes ao decorrer do dia que estava cansada.


As pessoas próximas achavam que se referia a atividade física da academia.


Mas ela estava cansada de algo que era difícil demais dizer em voz alta.


Estava cansada da vida.



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