
Ele espremia as lembranças e aos poucos pequenos fragmentos daquela noite voltavam. Não lembrava quantas haviam sido as cervejas, mas sabia que o garçom - desastrado - havia derramando algo na mesa e quase molhou a garota... 
Dos cigarros, se restavam quatro e ela fumou um, então, foram três, mas, e depois? O álcool não lhe havia tirado a lucidez momentânea, mas atrapalhava um pouco a memória. Mudaram de mesa uma vez e dividiram alguns silêncios... E... ?Agora, sentado na soleira da porta, ele observava o cair da chuva. Leve. O silêncio pulsava no sangue, na casa, na rua. Apenas a chuva cochichando com as poças d’água. Ele queria lembrar - nem que fosse em apenas um flash - quando é que foi que amarrou sua alma àquela menina maluca.
Havia se despedido direito? Prometera alguma coisa? Ou foi só a hipocrisia de sempre? O mesmo comportamento ignóbil? A noite esfriava aos poucos, e, no ar, aquele clima insolucionado de desencontro, o som dos trovões e a ausência que se desmoronava. Ela era culpada. Ela e aquela mania tola de saber de tudo. Pior, mania de adivinhá-lo. Logo ele que era tão enigmático, que imaginava ser um livro de páginas negras... Indecifrável.
Há um bom tempo não a via. Se ele não tivesse se distanciado tanto, quem sabe ela pudesse estar ali, assistindo também ao cair da chuva, compartilhando lembranças, reprisando memórias. Ele até que sentia saudade da garota. Daquelas mãozinhas sempre geladas, do riso fácil, do tagarelar doce, cheio de palavras esvoaçantes. Saudade de observar aquele jeito dela de sondar algo que a assuste ou seduz. Daqueles olhar tão sugestivo, capaz de desalojar demônios... 
Mas, não. Não queria pensar nisso agora. Não queria saudades porque não era homem de correr atrás. Menos ainda estando errado.
 
 
Um comentário:
Torço para que se reencontrem.
Postar um comentário